terça-feira, 16 de junho de 2009

Cap. 12: Restaurante

Hoje foi aniversário do Marcos, irmão mais velho do Pedrinho. Como meus pais são padrinhos dele fomos todos comemorar num restaurante bonito de cardápio difícil. Foi minha primeira vez em um restaurante com guardanapo de pano. Não sei se fico feliz ou triste em saber que não voltarei lá até o Marcos passar no vestibular. Também não sei se aquilo foi uma ameaça ou um apoio vindo do pai dele.
Acontece que descobri que o restaurante é como minha janela. Na nossa mesa éramos bem parecidos com aqueles que normalmente almoçam em datas especiais lá em casa. Usávamos as roupas que pareciam mais novas e pratos bonitos, não podíamos ficar descalços e penteamos o cabelo. Ok, mamãe sempre penteia o cabelo e papai quase não o tem, mas hoje meu cabelo estava decididamente mais bonito e arrumado que o normal.
Enquanto fingia comer minha salada comecei a olhar em volta. Reparei em outras crianças que também não eram amigas de agrião e em mulheres que pareciam só comer aquilo. Vi um adolescente fazendo aniversário e os garçons cantarem mais empolgados que as pessoas da mesa. Vi tanta gente diferente, vestidas e comendo de jeito parecido que me fiz perguntas. Por que estamos todos fantasiados? Se vamos comer fora é para nos divertir, então por que não estar a vontade? Será que todo dia é assim? Como os garçons poderiam estar mais animados do que a família se eles fazem isso todos os dias? Talvez a tv estivesse errada: os garçons não são psicólogos, são atores. Sempre sorrindo e agindo como se nos conhecesse.
Tentei imaginar quantas pessoas diferentes mas iguais já estiveram aqui. Quantos meninos que não gostam de agrião já se sentaram no mesmo lugar que eu.
Voltei a olhar para minha mesa. Mamãe estava linda, Papai conversando sobre carnes com o cardápio, Pedrinho misteriosamente já havia comido toda sua salada e Marcos parecia feliz da vida com a viagem que faria com os pais no fim de semana. Restaurante era algo legal. Acho que por que não era comum irmos. E tudo que fazemos em uma data especial vira algo acima do comum. O importante era estarmos juntos e eu não ter que lavar a louça depois de comer. Talvez a maior parte das pessoas que estavam lá estivessem pelo mesmo motivo.
Espero que o Marcos passe logo no vestibular.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cap. 11: Inverno daqui, inverno de lá

Passou no jornal que hoje seria o dia mais frio do ano. Acho que erraram. Hoje deve ter sido o dia mais frio da minha vida. Ok, eu já pensei isso em outros invernos, mas dessa vez tenho certeza. Desconfiei que até nevaria.
Depois de uma manha cinza e gelada, a tarde abriu um solzinho. Mas foi o suficiente para eu tirar algumas camadas de roupa. Porém quando cheguei em casa tive uma surpresa: a Luzia parecia que usava todas suas roupas de frio ao mesmo tempo. Pensei que ela estivesse doente. Afinal era muito agasalho! Ela então riu da minha preocupação e me deu o apertinho de leve na bochecha, que ela sempre dá quando me comporto bem.
A Luzia então veio com uma história esquisita, que me deixou encucado o resto da tarde. Ela disse que lá da onde ela vem o clima é bem mais quente, por isso um friozinho de nada para mim era o mesmo que um friozão de tudo para ela, pois estamos acostumados à climas diferentes. Eu sei que em lugares muito muito distantes do mundo faz tanto frio que chega a nevar. E em outros lugares tão tão distantes faz tanto calor que até imaginamos coisas. Mas a Luzia é brasileira. Não pensava que ela viesse de tão longe para o clima ser diferente.
O Brasil, então, deve ser uma imensidão. E o mundo? Nossa. O mundo nem sei que palavra usar!

Se eu fosse para o Pólo Sul viraria picolé. Enquanto os pinguins só vestiriam um smoking.
 
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