quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cap. 04: Sonho

Existem dois tipos de sonho. o sonho dormido e o sonho acordado.
Ambos são inevitáveis e geram certos problemas e prazeres.

O sonho dormido é sempre imprevisível. Ele pode ser bom como pode ser ruim. Eu raramente tenho sonho ruim, mas quando tenho me escondo na cama dos meus pais, onde tudo que é ruim não pode me alcançar. Tem gente que nunca tem sonho ruim. Pois não veem filmes feios (nem mesmo escondido) e tem uma luzinha que espanta todo o mal.
Mas papai me disse que tem gente que tem mais sonho mau que sonho bom, pois tem a consciência pesada. Ainda não sei bem o que é consciência (tanto que para escrever tive que procurar no dicionário), mas sei que se não fazemos nada errado não temos que nos preocupar com ela.
O grande problema do sonho dormido é que mamãe sempre o interrompe na melhor parte pela manhã, e por mais que eu me esforce pra voltar pra ele, nem mamãe deixa e nem minha lembrança permite. Ele escapa e me faz suspirar antes de levantar da cama.

O sonho acordado acontece quando menos se espera. As vezes me chamam de distraído, mas é injusto. Só estou concentrado no meu sonho acordado. Mamãe e Papai me disseram ontem, depois de lerem o recado da minha professora, que eu devo deixar os sonhos só para hora de dormir. Que quando estou acordado, e principalmente na escola, tenho que pensar na vida real, não em devaneios.

Mas ora, que sentido tem a vida real sem os sonhos?
Um cavalo é só um bicho bobo de quatro patas, maior que o meu querido Amendoim e mais chato que o leão. Mas se eu imaginá-lo com asas, me torno o Hércules ao montá-lo. Por que então está errado descrever o cavalo com asas na aula de ciências?
Os sonhos dão as cores no meu mundo. E sem eles não a mistério na hora de dormir e não há mistérios para quando eu acordar.

Espero nunca parar de sonhar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Cap. 03: B A BÁ

Aprender a escrever é coisa de outro mundo. Duvido que existam muitas outras experiências tão fantásticas quanto essa.
Tenho amigos que acham que escrever é como falar. Mas eu discordo totalmente. Nem toda palavra tem significado muito profundo. E têm algumas que de tão profundas, não entendo o significado.
As palavras têm muito poder. E para cada um significa uma coisa. Aprendi isso com papai, quando via televisão e ele disse que a fome do menino pobre do jornal não era como a minha fome esperando o jantar. Se cair na prova o que é fome, não sei se saberei responder.
Mas sei o que é perda, porque ano passado perdi meu melhor amigo, o Amendoim, meu cãozinho. E perda, nesse caso, não tem nada a ver com quando eu não acho o tênis de manhã.

Outra coisa cabeluda é o verbo.
Tem palavra que fala de passado mas não se conjuga! Como saudade. Como lembrança.
Tem palavra que fala de futuro e também não muda! Como esperança.
Mas essa, as vezes se perde.

Mesmo tendo tantas palavras no mundo ( e de acordo com meu professor eu nunca saberei todas elas), tenho a impressão que as vezes algumas faltam serem inventadas.
Como o que sinto pela Nina, da carteira da frente do Pedrinho, do lado do Andrade, que está do meu lado na sala.
Ah... não pensem que é amor! Amor é o que meus pais sentem um pelo outro e eu não quero ter filhos com ela! Só queria saber se ela quer lanchar comigo.
Há palavra para isso?

O mundo das letrinhas é infinito. Podemos não ter muitas delas, mas suas combinações? Nossa! Nunca tinha pensado em como coisas grandiosas podem ficar resumidas em letras! Imagine!
Por exemplo, GUERRA. Como o Inventor das Palavras pode ter feito GUERRA maior que AMOR?! Maior que ?!

Que mundo confuso!
Que mundo fantástico!
E é só o começo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cap. 02: Janela

Um dos meus lugares favoritos é a janela. Ela é a abertura entre dois mundos: de dentro e o de fora. Quando sento no peitoril me sinto capaz de estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo.

O lado de dentro é rotina. É quente e familiar. Só tem mudanças em feriados importantes, como o natal, porque comemos comida mais gostosa que o normal e ganhamos presentes. Apesar que aprendi, do lado de dentro da escola, que natal é celebração do nascimento do menino Jesus. Nunca ouço falar dele aqui dentro no natal.
Do lado de dentro vejo televisão, que retrata o lado de fora. Porém não o lado de fora da minha janela. Nada retrata esse lado de fora a não ser minha janela.
Minha vizinha não passa na TV. Mas o que passa na TV dela passa na minha.
Zilhões de pessoas veem Big Brother, que é a novela da vida do lado de fora. Mas nenhuma delas já viu um Big Brother pela janela.

Do lado de fora também há rotina. Tem coisas que sempre acontecem. O lixeiro passa, assim como o carteiro. As crianças vão cedo para a escola e voltam para o almoço. Tem coisas que só acontecem quando estou olhando. Passam pessoas que sempre vi e pessoas que nunca vi. Não conheço nenhuma delas. Algumas sorriem para mim, por eu ser criança. Outras parecem que nem sabem mais sorrir.

Daqui, do lado de dentro, imagino o que aqueles, do lado de fora, estão pensando e para onde estão indo. Eu aqui, preso nesse pequeno lado de dentro. E eles, na imensidão do lado de fora. Mas serão eles igualmente presos?
Talvez eu os pergunte um dia.


Ei, psiu!
Você é prisioneiro do seu lado?

lado de dentro
lado de fora

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Cap. 01 : Oi! Meu nome é Dudu!

Meu nome é Dudu. Simples assim. Nada de Edu, ou Eduardo. Muito menos Gracinha, Cute cute da mamãe ou Moleque. Só Dudu.
Tenho uma idade indefinida. Sou velho demais para achar que tudo é possível. E novo demais para acreditar no impossível. Acredito, então, no duvidoso.
Não sou pobre, e muito menos rico. Prefiro não ter o dinheiro como definidor de qualquer coisa. No meu mundo o dinheiro não quer dizer muita coisa. É uma pena quando quer dizer na vida de outras crianças.
Meus olhos são caleidoscópicos.
Meu pés possuem asas.
Minha imaginação é infinita.
E meu nome, é simplesmente Dudu.
 
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