quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cap. 10: Trem da vida

Hoje andei de trem pela primeira vez. Cara, foi diferente de tudo o que já tinha feito.
Já andei de bicicleta, carro, patins, ônibus, metrô e ombro do papai. Mas nada se compara ao trem. A primeira vista parece com o metrô, mas depois vi que cabe umas cinco vezes mais pessoas! Ou então, tentam fazer caber.
A primeira coisa que reparei foi que mamãe segurava minha mão mais firme que o normal. Não que eu tenha o hábito de sair de perto dela, mas as vezes as coisas do mundo são tão curiosas que me distraio! Depois percebi que todo mundo parecia ir para o lado oposto do meu. Me perguntei porque ia para frente se estava todos iam da onde eu tinha vindo. Com certeza para onde eu ia não deveria ser tão legal, já que parecia que ninguém queria ficar lá.
Quando estávamos chegando a plataforma pude ver um trem que acabava de chegar abrir as portas. Acho que nunca tinha visto tanta gente no mesmo lugar. Me lembrei daqueles filmes de guerra onde todos os soldados são iguais e vão na mesma direção, seguindo os da frente, sem terem outra opção.
Então finalmente entramos no trem. Vi em minha volta pessoas bem arrumadas. Mulheres de salto alto e unhas bem feitas. Homens de terno e pastas pretas. Vi pessoas com roupas simples, como as usadas pela Luzia no dia de limpar janelas. Vi jovens estudando. Senhoras refletindo. Vi um velho que parecia velho demais para estar lá. Vi uma mãe com um bebê novo demais. Vi grávida de pé. Vi gente vendendo e gente pregando. Eu vi vidas.
A maioria tinha olhos cansados ou indiferentes ao resto do mundo. Mesmo parecendo que havia um mundo inteiro dentro daquele trem. Só eu tinha olhos curiosos. Talvez porque só eu nunca havia estado por lá. Mesmo assim não gostaria de envelhecer com aqueles olhos.
Queria muito poder perguntar à eles: onde vão? Por que vão? Afinal ninguém parecia satisfeito em ir. Nem ansioso em chegar. Talvez impacientes com a demora, mas não agitados com a expectativa de chegar.
Éramos todos sem rosto, pois nunca mais nos veríamos. Era como se não fossemos alguém. Como se a particularidade da vida de cada um não existisse. Por que parecia que os outros não importavam? Por que empurravam? Não empurraríamos nossa mãe. Mas ali ninguém é mãe. Ali ninguém era ninguém. Parecíamos soldados sem nome.
Assim que cheguei em casa, dei nome para cada um dos meus soldadinhos de plástico.

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Não vejo a horaaaaaa de chegar metrô em SSA...
    Vai rolaaaaarr a tensão cara, confesso que tenho um pouco de medo :S ...!
    (;

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Devaneie

 
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